A Literatura Infantil no Brasil
A Literatura Infantil Brasileira surgiu no final do século XIX. Seu nascimento não pode ser desvinculado das condições históricas que possibilitaram, no século anterior, o aparecimento de livros dedicados às crianças no continente europeu. Dessa forma, devemos considerar o papel central que a criança passou a ocupar naquele momento na sociedade, conforme já foi explicitado no Texto 1.
Assim, a Literatura Infantil surge com o propósito explícito de formar a criança e de lhe ensinar comportamentos desejáveis, tendo, portanto, um caráter eminentemente pedagógico. Durante muito tempo as obras infantis foram vistas somente com esta finalidade, a de ensinar. Esse objetivo estaria embutido na própria assimetria do gênero: adultos que escrevem para crianças.
No Brasil essa situação não foi diferente. A edição de livros infantis se deu para atender às exigências de um país que buscava, a partir da Proclamação da República, em 1889, se modernizar. A sociedade brasileira dessa época sofria uma forte transformação, em que se colocavam muitas expectativas na educação, à qual a literatura infantil sempre esteve ligada.
Entre as obras escritas no final do século XIX e início do século XX, as que procur
avam descrever o Brasil, o apresentavam como um país de natureza exuberante, predestinado a um futuro promissor e brilhante, e eram obras com características marcadamente ufanistas, de exaltação da pátria1. Em relação à linguagem, não havia uma preocupação em adaptá-la ao público infantil e, portanto, essa linguagem hoje nos causa estranheza pela sua erudição. Por outro lado, deve-se relembrar que, na verdade, as primeiras obras publicadas no Brasil para crianças eram traduções e adaptações de obras estrangeiras, as quais circulavam, muitas vezes, em edições de Portugual.
Assim, cabe citar os nomes de Carlos Jansen e Figueiredo Pimentel, que se encarregaram de traduzir e de adaptar obras para o público infantil brasileiro. Dentre algumas obras podemos destacar os clássicos de Grimm, Perrault e Andersen, divulgados nos Contos da Carochinha (1894)2, nas Histórias da avozinha (1896) e nas Histórias da baratinha (1896), todos assinados por Figueiredo Pimentel, além de Contos seletos das mil e uma noites (1882), Robinson Crusoé (1885), As aventuras do Barão de Münchhausen (1888), dentre outras obras traduzidas por Jansen.
Ainda no que se refere à questão da linguagem, o primeiro autor que demonstrou a preocupação de escrever em uma linguagem dirigida às crianças, de uma maneira atraente para o público infantil, foi Monteiro Lobato3. Em 1921 ele publicou sua primeira obra infantil, chamada A menina do narizinho arrebitado, na qual já há a introdução da oralidade no texto escrito, à qual se seguiriam muitas outras. Entre 1920 e 1945 desenvolve-se a produção literária para crianças, aumentando o número de obras, o volume das edições e o interesse das editoras pelo mercado de livros infantis. Na década de 20 entretanto, destacam-se quase que somente as criativas produções de Monteiro Lobato, que dominou o gosto infantil pela literatura durante mais de 20 anos4.
No período que vai de 1945 até a metade da década de 60, houve um momento de retrocesso no que diz respeito à criatividade. O modelo lobatiano foi exaustivamente repetido e as obras desse período, na sua grande maioria, incorporaram os procedimentos da indústria de massa e cultural, incrementado a partir da década de 50.
A partir do início dos anos 70, inicia-se o chamado boom da literatura infantil brasileira, graças ao fortalecimento do setor editorial, à ampliação do público escolar e, portanto, consumidor, pelo apoio governamental em programas de incentivo à leitura, pela diversificação de temáticas,etc. Podemos fazer um breve esquema das principais características das obras disponíveis para crianças no mercado editorial brasileiro nas últimas décadas:
- no cenário das histórias, o urbano substitui o mundo rural;
- a linguagem utilizada é marcada pela oralidade e coloquialismo;
- freqüentemente, a personagem criança já não é ingênua, mas crítica, participante e contestadora;
- a nova poesia não tem mais temáticas cívico-pedagógicas, mas aponta para outros caminhos (humor, temáticas cotidianas, nonsense);
- aparecem vários livros policiais, de ficção, obras que incorporam a “nova fantasia”;
- surgem novas explorações gráficas, na ilustração, na diagramação dos livros, assim como uma grande intertextualidade;
- investe-se também no humor e na ironia5 ;
- há um aprofundamento em dramas humanos do cotidiano (o menor abandonado, a separação dos pais, os preconceitos, a morte, problemas familiares);
- aparecem obras com final aberto e situações a serem resolvidas;
- o nacionalismo aparece com nova roupagem, através da busca das vozes típicas da mestiçagem brasileira (negros e índios); revisitação do folclore;
- nos últimos anos, ocorre grande expansão de obras traduzidas, geralmente de autores de grande sucesso internacional6
No decorrer dessa interdisciplina e através de suas leituras, você ficará conhecendo mais sobre as obras que podem interessar a seus alunos e com as quais você poderá trabalhar !
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