CAPÍTULO SEIS
Quando Antônio entrou, Sophie estava no sétimo sono. Encolhida como um novelo, parecia muito jovem, incrivelmente bonita e assustadoramente vulnerável.
Ela era sua esposa. Foi um momento perturbador. Ela agora era Sophie Cunningham da Rocha, a marquesa de Salazar. Reconhecia ter motivos para queixas. Não estava acostumado a reconhecer seus erros. Mas tinha censurado seu comportamento como esposa sem admitir os direitos que tinha de ser tratada como esposa.
Um ligeiro movimento no berço chamou-lhe a atenção. Encontrou os olhos grandes e esperançosos de Lydia. O bebê abriu-lhe um sorriso de boas-vindas. Sem palavras, Lydia demonstrava querer sair e esperar que ele lhe oferecesse os meios de escapar. Ela deixou escapar um grito de decepção quando ele virou-se para a porta.
— Se eu tirar você daí, não vou saber o que fazer com você — esclareceu para se defender.
Os olhos chorosos mantinham-se presos a ele.
— É claro que posso aprender, mas aos poucos — murmurou baixinho, esperando fazê-la voltar a dormir. Deu outro passo afastando-se do berço.
Os olhos castanhos umedeceram e a boca tremeu. Diante da ameaça de lágrimas, Antônio ficou tenso. Olhou para Sophie, que dormia profundamente.
Respirando fundo e fazendo uso da legendária habilidade em lidar com o inesperado, aproximou-se para tirá-la do berço. Ela sorriu abertamente para ele.
— Você sabe como conseguir o que quer. Mas o sucesso nem sempre é seguido da recompensa esperada. Vamos ver o noticiário juntos.
Sophie só acordou quando o ombro foi sacudido gentilmente. Abrindo os olhos, lentamente concentrou-se no rosto bonito de Antônio, e a boca ficou seca. Por mais que tentasse, não podia deixar de sentir-se atraída.
— Você quer se levantar? — perguntou baixinho. — Vamos aterrissar em quinze minutos. Dormiu bem?
— Desmaiei; nem me lembro de ter encostado a cabeça — confidenciou, olhando para o relógio. — Estou surpresa por Lydia ter me deixado dormir tanto tempo!
— Eu a entretive.
Antes que pudesse fazer qualquer comentário a respeito da surpreendente informação, ele tinha saído. Dez minutos depois, encontrou-o na cabine principal. Lydia cochilava placidamente.
— Como conseguiu lidar com ela?
— Consuela, uma das comissárias, é mãe. Me prestou alguma assistência quando Lydia precisou beber algo — admitiu. — Mas Lydia se comportou bem, e foi fácil distraí-la.
— Obrigada por me deixar dormir. — Sophie estudou as mãos cruzadas e limpou a garganta. — Devo-lhe um pedido de desculpas pela forma como perdi o controle.
— Você não me deve nada. As reclamações tinham fundamento. Lamento ter dificultado seu dia. Devo confessar que estava alimentando um certo ressentimento por ter que lidar com a situação.
Sophie tocou-lhe a mão num gesto instintivo de compreensão.
— Não precisa se desculpar por ser humano. Deve ter sido difícil para alguém como você lidar com um irmão como Pablo. Depois, ter que assumir a responsabilidade de Lydia na barganha, bem, obviamente, deixou você de saco cheio.
Esse súbito rasgo de generosidade foi o suficiente para Antônio abandonar a reserva sobre os próprios sentimentos. A expressão de arrependimento, a honesta admissão do erro e a explicação que julgava devida, custou-lhe muito. Sua compaixão inesperada corroeu seu forte orgulho como ácido.
— Você compreendeu mal minhas intenções — respondeu frio. — Nunca, desde que soube da existência de minha sobrinha, quis que outra pessoa cuidasse dela. Não há pessoa mais adequada do que eu para assumir essa tarefa e nunca tentaria evitar a responsabilidade. Não espero que compreenda isso, mas a lealdade à minha família fala tão alto quanto minha honra.
Sophie ficou ruborizada e depois pálida. Por mais que tentasse, sempre parecia fazer ou dizer a coisa errada a Antônio. Ele a devia achar muito vulgar e simplória para compreender a sensibilidade
— Que coisa odiosa de se dizer — disse com sarcasmo, pois mais uma vez ele a magoara. — Fui tão leal a Belinda quanto você à sua preciosa família!
Uma hora mais tarde estava sentada na luxuosa limusine atravessando o campo da Andaluzia. Até então, tinha ignorado solenemente Antônio, cortando-lhe as tentativas de conversa.
Quando ele tentou contar um pouco a história da Espanha, foi sarcástica.
— Poupe-se do trabalho. Compre um livro para mim!
Quando a estrada alcançou plantações de oliveira, informou que já estavam na propriedade da família. Depois do que pareceu um tempo sem fim, as oliveiras deram lugar a pomares de laranjas e a um vilarejo pitoresco branco estendendo-se pelas colinas. Os habitantes espiavam das casas e paravam na rua estreita e sinuosa para olhar a limusine e cumprimentá-los.
— Ainda estamos na propriedade da família? — Uma curiosidade desenfreada forçou-a a abandonar o silêncio enquanto a limusine atravessava uma estrada encoberta por sempre-vivas.
— Si. Meu tataravô plantou esses carvalhos — contou Antônio orgulhoso.
— É como o conto de fadas do Gato de Botas — disse sem querer, e quando Antônio olhou-a com ar de incompreensão, acrescentou: — O Gato de Botas queria impressionar o rei dando-lhe a idéia de que seu dono era imensamente importante e rico. Então, fingiu que toda a terra por onde passavam pertencia a esse personagem a quem deu o nome de Marquês de Carabás.
— O marquês de Carabás — repetiu Antônio deixando transparecer uma leve satisfação.
— É claro que esse marquês faz parte dos contos de fadas, e era imaginário enquanto você é real. Mas tudo isso me parece irreal...
Havia um motivo para ficar silenciosa. A limusine virou numa curva, e através das árvores ela avistou uma construção antiga de pedras. Adornada com tantas torres como um palácio de conto de fadas, cercada de vegetação exuberante. Era indescritivelmente bonito, e ficou imediatamente encantada.
— O que você acha?
Sophie disfarçou e deu de ombros com casualidade controlada, sem demonstrar a verdadeira impressão.
— É muito grande... Não vamos esbarrar com você a cada cinco minutos, certo?
— É pouco provável. Talvez, devesse ter mencionado antes que uma enfermeira foi contratada para ajudá-la a cuidar de Lydia — adiantou Antônio cauteloso.
— Desde que eu goste da enfermeira, não tem problema. — Sophie estava agradecida por contar com um par extra de mãos. Muitas vezes fora forçada a contar com a bondade de Norah. Uma enfermeira seria um verdadeiro luxo.
A limusine parou num pátio imenso ornamentado com palmeiras em vasos enormes. A luz suave da tarde iluminava as abóbodas de pedras e colunas que formavam uma arcada de três lados. Pingos de água caíam de uma fonte localizada perto das maciças portas de madeira abertas que deixavam ver um piso encerado como um espelho.
Lydia pendurada no quadril, Sophie atravessou a soleira e congelou diante da visão de fileiras de pessoas ocupando a gigantesca entrada do hall.
Com firmeza, Antônio colocou-lhe a mão no cotovelo e conduziu-a para cumprimentar uma senhora pequenina e elegante que parecia ter sido talhada em granito.
— Minha avó, Dona Ernesta... Sophie.
Dona Ernesta acenou a cabeça como uma realeza, e disse que era um enorme prazer dar as boas-vindas ao neto, à mulher e à bisneta. Sophie não ficou desapontada. Sabia que era tão bem-vinda em seu novo papel de esposa de Antônio como a bruxa má. A atenção foi rapidamente desviada para Lydia, saudada com afeto sincero, o que quase alterou a aparência de granito da bisavó. Uma jovem e sorridente enfermeira foi apresentada, e Lydia recebeu uma recepção entusiasmada.
— Venha e conheça o resto dos empregados — apressou-a, ignorando-lhe o medo ao registrar o imenso número de pessoas que se encaixava nessa categoria.
Todos que trabalhavam no castillo esperavam para cumprimentá-la. Antônio fez as apresentações com a segurança que parecia acompanhá-lo em todos os gestos, e ela apreciou-lhe a ajuda.
Depois, ele deu-lhe a mão e subiram a escadaria de pedra.
— Você deve estar morta de fome — murmurou.
— Estou... Devia ter comido quando tive a chance — suspirou Sophie, a atenção voltada para as paredes de pedra e os arcos góticos ao redor. Era um castelo de verdade, um castelo 100% medieval; estava fascinada.
— Na esperança de que me perdoe, mandei preparar uma refeição a ser servida em sua suíte. Quero que seja feliz no castillo.
— Sua avó não vai concordar com você.
— É uma pena que não a tenha conhecido no casamento de sua irmã, querida. Jamais será indelicada, e se acostumará rapidamente com nosso casamento.
Sophie não estava tão confiante.
— Por falar nisso, devo avisá-la que não contei a ninguém sobre nosso acordo nupcial. Segredos compartilhados começam a se espalhar, e o que era particular...
— Você quer dizer que Dona Ernesta acredita que nós estamos... realmente casados? Você precisa contar-lhe a verdade!
— Só ia complicar a situação. Conheço bem minha família. Para todos os efeitos, é mais prudente fingirmos ter um casamento normal, pelo menos por enquanto.
Sophie discordava, mas se tocou. Era óbvio que Dona Ernesta estava fula de raiva e decepção ao ver o neto entregar o título, a fortuna e o gigantesco castelo a uma morta de fome inglesa. Não a culpava. Antônio equivalia a um príncipe, e um príncipe merecia uma princesa.
No andar de cima, Antônio conduziu-a a uma enorme, e lindamente mobiliada, sala de estar que levava a um imenso quarto que, por sua vez, tinha um banheiro fabuloso e uma sala de vestir anexa.
— Tudo isso só para mim?
— O jantar será servido aqui em quarenta minutos.
— Aqui...? — Ficou aliviada. Tivera medo de ter que comer numa sala de jantar sofisticada, além de não ter nada apropriado para vestir.
— Si. — Organizei uma refeição informal com seus pratos preferidos...
— Mas você não sabe do que gosto...
— Telefonei para a sra. Moore, querida. Você praticamente não comeu hoje. Culpa minha. Quero que relaxe e se sinta confortável no castillo.
Sophie riu.
— Nunca vou relaxar num lugar como esse!
— Claro que vai — declarou Antônio, levantando-lhe o queixo para persuadi-la a olhar para cima. — Você é minha esposa; essa é sua casa e deve considerá-la como tal. Seu conforto é de primordial importância para mim e seus empregados.
Por um infindável momento, só tinha consciência do poder do olhar dele. A preocupação em relação a ela encheu-a de felicidade. O suave aroma da loção de barbear que usava invadiu-lhe as narinas. Queria beber o perfume, já tão familiar para ela, como uma droga. Queria apoiar-se nele, reter aquele contato físico fugaz dos dedos dele em seu pescoço. Rebelou-se contra a própria fraqueza e, literalmente, forçou-se a distanciar-se com um delicado sorriso estampado no rosto ruborizado.
— Certo, então se devo me sentir em casa, vou tomar um banho antes da comida chegar — disse, tentando se compor. — Primeiro me diga onde está Lydia, porque quero checar se ela está OK sem mim
Por um breve segundo, Antônio ficou bastante tenso enquanto continha o desejo que o consumia. Bastou aproximar-se e ouvir a referência ao banho, e a imaginação tinha ido às alturas. O olhar velou-se enquanto lutou contra o desejo de simplesmente agarrá-la como um homem de Neanderthal. A luxúria nunca o tinha assaltado com tamanha força. Quase se esquecia de quem era. A sensação o fazia aniquilar todo pensamento racional.
Era sexo, puro sexo, nada a ser elaborado. Ela era incrivelmente sexy, e o simples fato de parecer desconhecer a força da própria atração aumentava-lhe os atrativos. Não se lembrava da última vez em que esteve com uma mulher que passasse por um espelho sem se olhar. Imagine uma tão devotada aos interesses de um bebê que as próprias necessidades ficassem em segundo plano...
Sophie espiou Lydia, dormindo num largo berço. A sobrinha estava sendo cuidada por bem uma meia dúzia de mulheres. Despreocupada, Sophie mergulhou numa banheira perfumada. Recostou a cabeça e examinou, impressionada, os outros acessórios luxuosos. Estar casada com Antônio tinha suas compensações. Outras mulheres, e não ela, o teriam..., mas tinha Lydia, uma banheira maravilhosa, e pelo menos a promessa de comida. O lado negativo era que essa era sua noite de núpcias, e estaria sozinha. Mas qual a novidade? perguntou-se, esforçando-se por não mergulhar na autopiedade. Infelizmente, estava ciente de que Antônio jamais teria deixado uma princesa sozinha...
Refrescada, saiu do banheiro enrolada numa toalha branca, os cabelos desalinhados caindo-lhe pelos ombros. O nariz farejou um suave aroma no ar e o seguiu.
Antônio estava de pé na porta da varanda.
— Ah! — Sophie parou desconcertada a poucos passos da mesa arrumada com copos reluzentes, talheres e o carrinho de comida ao lado. — Você trouxe a comida?
Antônio percebeu que a encarava. Com o cabelo louro em desalinho, a pele rosada e apenas uma toalha deixando entrever as curvas entre os seios e o joelho, estava incrivelmente atraente.
— Não... estou aqui para jantarmos juntos. Sophie olhou-o surpresa.
— Se vamos fingir que esse é um relacionamento normal, não podemos passar nossa noite de núpcias em quartos separados.
— Ah, certo... — balbuciou Sophie, considerando que ele estaria a seu lado por não ter escolha. Isso significava que a presença dele não era motivo para ficar excitada. — Então melhor me vestir.
Antônio resistiu à compulsão de adolescente de dizer-lhe que a achava linda daquele jeito e respondeu com uma casualidade estudada.
— Basta um roupão.
— Não tenho um, e está muito quente para meu jeans. Não tenho muitas roupas...
— Fique como está — sugeriu.
A tensão dançou no ar. Ele também tinha mudado a roupa, e estava com uma calça preta que acentuava-lhe as pernas longas e fortes, e uma camisa aberta azul muito elegante. Ele conseguira ficar sofisticado e maravilhoso.
— Você não parece tão empolado como de hábito! — exclamou Sophie antes de conter tamanha franqueza. ]
Um ligeiro rubor marcava as maçãs do rosto, o que dava ao rosto fino uma força intensa. Empolado? Seu intelecto tentou analisar cada um dos possíveis significados e nenhum deles era um elogio. Era uma palavra que ele associava a seus parentes mais chatos, aqueles irritantemente atados a convenções e hábitos. Era assim que ela o via? Empolado? Ela era sete anos mais moça do que ele. Isso era tanta diferença?
— Vamos comer — murmurou, determinado a não reagir ao que ele sabia ter sido um comentário impensado.
Sophie sabia tê-lo ofendido.
— É só o jeito de você falar e os ternos... Não estou habituada a homens de negócios, e suponho que todos vistam ternos...
— De que jeito eu falo? — Antônio descobriu não poder calar a pergunta enquanto puxava a cadeira para ela se sentar.
— Não pretendia fazer nenhuma crítica — disse ansiosa, sentando na beirada da cadeira antiga de espaldar alto. — Você tem maneiras fantásticas, e não pode evitar ser formal... Quero dizer, você é um marquês...
— E empolado. — Antônio respirou e sacudiu os ombros, num gesto característico de indiferença mediterrânea, mas a palavra que ela usara tinha lhe corroído a alma com ácido. — Vamos comer.
Sophie apressou-se em examinar o conteúdo do carrinho e soltou uma exclamação de prazer diante das costelas, pizza e batatas fritas. Uma enorme variedade de outras opções também estava disponível.
— Queria que você tivesse comida com a qual estivesse acostumada.
— Como montanhas de comida saudável também, mas Norah não sabe disso. Para ser honesta, Norah e Matt comem coisas como essas quase sempre. Eu só como isso de vez em quando. — Ao falar, Sophie espalhava almofadas no carpete. Depois abriu as portas da varanda deixando entrar o ar refrescante da noite.
Num piscar de olhos, a elegante sala ficou desarrumada e mais cheia de vida. Ficou evidente para Antônio que sentar-se numa mesa quando o piso de madeira estava disponível seria um bocado empolado. Enquanto Sophie esvaziava o carrinho e ajoelhava-se entre as almofadas para arrumar os pratos como se fosse um piquenique, ele abriu o champanhe e encheu as taças. Ela comeu sem talheres, lambendo as pontas dos dedos como um gato. Arrancou um pedaço de pizza, abaixou a cabeça e deu pequenas mordidas. Nunca, até esse momento, tinha ocorrido a Antônio que ver uma mulher comer podia ser uma experiência sensual. Estava absolutamente fascinado.
— Sobre o que quer conversar? — perguntou animada, atirando-se nas almofadas empilhadas para terminar o champanhe.
— Minhas empoladas boas maneiras me impedem de perguntar como você e sua irmã têm pais diferentes — admitiu.
Sophie ficou tensa, mas tentou afastar o desconforto.
— Ah, não é nada incrível. O pai de Belinda era casado com nossa mãe, Isabel. Ele era um executivo e não ficava muito em casa. Isabel conheceu meu pai quando ele pintava a casa deles...
— Ele era artista?
— Ele pintava paredes, não quadros. Bem, ele a engravidou e ela abandonou o marido...
— E?
— Meu pai não valia grande coisa, e Isabel logo se deu conta do erro. Quando eu tinha um mês, voltou para o marido e me deixou para trás com papai.
— Deve ter sido difícil para seu pai...
— Papai faria qualquer coisa por dinheiro, e Isabel mandou-lhe dinheiro até eu completar 16 anos. Nunca me visitou. Deixei de existir. — Sophie levantou o queixo, um brilho desafiador nos expressivos olhos.
— Ela provavelmente ficou envergonhada com o que fez — murmurou Antônio gentilmente, vendo a dor que ela tentava esconder. Entrelaçou os dedos aos seus num gesto de consolo tão instintivo quanto pouco usual para ele. — Você se virou bem sem ela, querida.
— Você acha mesmo? — Antônio estava tão perto que Sophie mal conseguia respirar.
— Você dobra, mas não quebra — Antônio respirou um pouco mais pesadamente, debruçando-se sobre ela para acariciar seu lábio inferior num toque macio como seda.
Uma leve brisa agitava-lhe os cachos. Ela estava parada, o coração batendo feito louco por baixo da toalha. Os seios ficaram apertados e confinados, e uma energia irrequieta fluía através dela. Estava totalmente focada nele. Se ele não a beijasse morreria de decepção.
Entrelaçou o dedo em seus cabelos num movimento sutil. Os olhos provocantes colidiram com os seus, e um nó de tensão apertou.
— Adoro seu cabelo... tem vida própria.
— Antônio... — sussurrou, esticando-se nos travesseiros, deixando a cabeça inclinar-se. Ela sentiu-se desavergonhada, mas estava sendo tomada por um delírio mais forte que ela.
A respiração roçou-lhe a bochecha. Ele demorou-se, e deixou a boca brincar com a sua. O desejo percorreu-o numa explosão assustadora. Sem saber o que fazia, ela o puxou para si. Ele resistiu e riu fitando-a com os olhos escuros cheios de satisfação.
— Eu não respondo bem a essa aproximação de domadora — brincou.
Ela sentiu-se tola e vulnerável. Sentou-se.
— Não sou um brinquedo!
Surpreso pela demonstração de rejeição, Antônio desabafou:
— Por Dios, estava provocando...
— Não, não estava... estava me gozando! — Sophie acusou-o. — Bem, antes que você se empolgue com a idéia de que estou muito entusiasmada...
Antônio pegou-a e apertou-a nos braços.
— Você não poderia jamais ficar entusiasmada demais. Você me excita tanto que não posso pensar quando estou assim perto — admitiu.
Prestes a se desvencilhar novamente, Sophie parou e fixou os enormes olhos ansiosos no rosto forte.
— Sério?
Ele envolveu-lhe o rosto, e as mãos pareciam trêmulas.
— Estou ardendo por você, querida.
Ela sentiu que estava sendo sincero e tremeu.
— Então pare de fazer joguinhos...
— Não estou brincando. — Antônio deu-lhe um beijo demorado e intenso que a fez agarrar-lhe os braços para se apoiar, e deixou-lhe a cabeça girando. — Acredite em mim...
— Você não pode planejar tudo...
— Mas eu planejo — murmurou frustrado, buscando novamente sentir-lhe o gosto. — Isso não devia estar acontecendo...
Seus pequenos dedos mergulharam no espesso cabelo negro para empurrar-lhe a cabeça.
— Então... pare!
— Não posso... quis você desde que a vi pela primeira vez há quase três anos. Agora a quero ainda mais.
Diante dessa confissão, os olhos perturbados brilharam como estrelas. Queria gritar de alegria ao vento. O que ele sentia não era amor, mas ela nunca esperara pelo amor de Antônio. O desejo era suficiente para satisfazer seu desejo profundo, desesperado por algum tipo de reação dele. Naturalmente não duraria. Mas um desejo da mesma intensidade que o seu estava presente, e ela não era orgulhosa o suficiente para deixar escapar o momento.
Ele apertou os lábios contra os seus novamente. A doce e aguda invasão da língua na profundeza de sua boca fez com que gemesse alto. Ele a levantou com facilidade nos braços e a levou para o quarto. A força a deixou sem ar. Deitando-a na cama, tirou a toalha. Despreparada para esse imediato desnudar, cruzou os braços cobrindo-se num movimento instintivo.
Antônio surpreso examinou-lhe os olhos assustados e as maçãs do rosto vermelhas.
— Não pode ter vergonha de mim...
— Não estou com vergonha — negou. Tirando vantagem desse momentâneo parêntese, puxou as cobertas e cobriu-se parecendo um caranguejo escondido embaixo de uma pedra para proteger-se. — Nem um pouco — adicionou com ênfase, e sentou-se para desabotoar a camisa dele num esforço para distraí-lo.
— Então deixe-me olhá-la. — Antônio segurou o lençol que ela enrolara debaixo dos braços, e o arrancou antes que ela pudesse adivinhar-lhe a intenção. A torturante visão dos seios perfeitos provocou um gemido de apreciação. Ele a pegou com um braço, curvou-lhe as costas e explorou os montículos firmes com habilidade. O menor toque deixava-lhe a carne macia em fogo. Os dentes rangeram, os quadris moviam-se no lençol. Quando ele brincou com os mamilos rosados eriçados e sensíveis, ficou impossibilitada de suprimir o gemido na garganta.
— Você é ainda mais linda do que eu imaginei, querida. — Antônio respirava com dificuldade, os olhos famintos excitados ao extremo, diante das curvas arredondadas que se revelavam. — E cem vezes mais receptiva.
Levantando-se, terminou de desabotoar a camisa e a tirou. Ao fazê-lo, os músculos desenvolvidos sobressaíram no torso forte e acentuaram o peitoral e a rigidez do abdômen. Pêlos de ébano sombreavam-lhe o peito. Ela parecia sufocar. A batida do coração aumentara e parecia um tambor. Ele era um macho espetacular. Parecia hipnotizada até que ele tirou a calça, ela ficou encabulada e abaixou o olhar.
— Venha aqui.
Ela se ajoelhou, olhando-o por baixo dos cílios, ruborizada diante da nudez dele. Ele a pegou como se fosse uma boneca. As mãos agarraram-lhe a curva dos quadris, levantaram-na e a puseram em cima dele. O corpo dele era quente, sedoso, uma eletrificante mistura de diferentes texturas contra sua pele macia. Ela estava consciente do calor e da força da ereção e de sua própria necessidade de ser tocada. Sentiu-se escravizada pela promessa de prazer que ele vinha lhe proporcionando.
— Me toque.
— Até você me implorar que pare. — Ele deitou-a de costas na cama e veio para cima dela, forte e pagão em sua intensidade sexual. Ele abaixou a orgulhosa cabeça para os botões rosados proeminentes de seus seios e deixou a língua lamber os bicos. Ela arqueou a espinha e gritou quando ele intensificou a sensação arranhando-a com os dentes e a boca experiente. O calor queimou-lhe a pélvis.
— Não pare — sussurrou, movendo os quadris num movimento constante, selvagem, consciente do palpitar em sua parte mais íntima.
Os olhos derretidos de desejo, Antônio abriu-lhe as coxas. Com habilidade afastou os pêlos que cobriam sua feminilidade e tocou-a onde nunca fora tocada antes. Essa intimidade partiu seu tênue controle em pedaços. Ele encontrou a parte mais sensível de seu corpo, e uma sensação ao mesmo tempo doce e alucinante tomou conta dela bloqueando todos os outros sentidos. Quando a espiral de prazer aumentou a ponto de quase doer, ela contorceu-se.
— Antônio... — O nome dele era como uma oração em seus lábios. Não mais podia conter a luxúria percorrendo-a em ondas potentes. Os quadris moviam-se num ritmo sinuoso; gemidos escapavam-lhe da garganta.
— Enamorada... você me intoxica — confessou quando veio para cima. — Pretendo lhe dar mais prazer do que qualquer um possa ter lhe dado.
Quando ele mergulhou em sua profundeza úmida, a excitação tomou conta de cada uma de suas células com a ferocidade de uma floresta em chamas. A dor aguda causada pela invasão tomou-a de surpresa. Os olhos arregalaram-se em choque, e ela emitu um grito involuntário contra o ombro dele.
— Eu machuquei você?
— Não...
Ele fixou a claridade luminosa de seus lindos olhos.
— Eu sei que machuquei você. Fui muito bruto?
Ela ficou ruborizada, mas era muito orgulhosa para admitir que ele era seu primeiro amante.
— Claro que não...
— Você me excita tanto que perco o controle — Antônio confessou, penetrando aos poucos seu corpo, agora mais receptivo. — Esqueci como você é pequena, frágil.
Cada um dos movimentos sutis mergulhavam-na num prazer quente e incontrolável. O tempo parou. A paixão a dominou numa sensação de alta voltagem. Ele enfiou as mãos por baixo de seus quadris e a levantou, penetrando-a com intensidade. O coração disparou, e ela tentou respirar. A necessidade e a excitação tinham se unido, e a ânsia de ser satisfeita era um tormento. Sua fome foi saciada. Perdida no choque voluptuoso de ondas de prazer convulsivo, gritou de prazer e assombro.
Ao final, Antônio a enlaçou, beijou-lhe o topo da cabeça e estudou o teto ornamentado com olhos brilhantes. Mantinha os dois braços à sua volta num abraço possessivo. Nunca tinha tido um sexo tão fantástico. E ela era sua oficialmente. Queria gritar de alegria. Na verdade, sentia-se tremendamente satisfeito com a vida em geral. Tinha dispensado uma amante que se tornara aborrecida e resmungona, e descobrira que a esposa tinha uma vocação magnífica para a paixão. E se não estava enganado, a noiva tinha lhe dado um presente muito especial que nunca sonhara receber na noite de núpcias: era virgem. Achou totalmente incrível que o destino fizera com que ela conservasse miraculosamente o corpo perfeito para ele. Ele lhe devia um pedido de desculpas por ter pensado o pior naquela noite em que a vira voltando da praia. A essa altura lembrou-se do acordo, e ficou pasmo de ter esquecido...
Sophie estava feliz. Na verdade, não se lembrava de ter sido tão feliz exceto, é claro, em sonhos. Sonhos maravilhosos nos quais vagava de mãos dadas por lugares ensolarados com Antônio. Ele desempenhara um papel preponderante nos melhores sonhos por tanto tempo... E agora ela aprendera que ele era melhor do que em todas as fantasias secretas sobre como ele seria na cama. O futuro dele em seus sonhos estava garantido pelo resto da vida. Aconchegou-se a ele.
Pela primeira vez em quase três anos, aceitou o fato de que amava Antônio. Embora estivesse destinado a nunca saber disso, ele tinha roubado seu coração no primeiro encontro. Ainda tinha que decidir o que julgava mais atraente nele. A inteligência, a aparência, os modos fantásticos ou o sorriso fabuloso? Fosse o que fosse, embora soubesse na época que amá-lo era uma estupidez, nenhum rival tinha conseguido suplantá-lo. Por isso, perdia o controle quando ele estava por perto, reconheceu. Ele podia magoá-la com tanta facilidade... E com ele perdia o bom senso. Isso explicava o porquê de ter dado a virgindade a um homem que anunciara na sua cara que pretendia continuar sendo um mulherengo ao mesmo tempo que pretendia ser um marido? Então, o que pretendia ser agora? Os pensamentos felizes foram bombardeados com a velocidade da luz.
Antônio decidiu que estava pensando demais. Por que complicar as coisas? Por que buscar problemas que não existiam? Afastou Sophie do peito, encaixou-a em seu braço forte e beijou-a de tirar-lhe o ar.
— Você devia ter avisado que era virgem, querida — disse com ternura. — Eu teria tido mais cuidado para que não sentisse tanta dor.
Emergindo de um beijo que a deixou com a cabeça girando e os dedos dos pés crispados, Sophie ficou perplexa com o comentário, pois significava que ele percebera o que ela tinha certeza que ele não iria perceber.
— O que faz você supor que eu era virgem? — Forçou uma risada, pois estava convencida de que não havia como ele ter certeza. — Quero dizer, isso é comum na minha idade?
— Muito incomum — concordou com jeitinho, prendendo-a nos travesseiros e a arrumando numa posição mais íntima. — Mas, por favor, não fique com a impressão de que estou me queixando de sua falta de desempenho no quarto...
— Não? — Aquela referência ao "desempenho", normalmente aplicado a um cavalo e sua performance, foi o máximo da humilhação. A qualquer momento, ele iria chicoteá-la no traseiro e oferecer-lhe aveia.
Na verdade, Antônio parecia encantado por ela ter provado ser inexperiente em termos sexuais. Mas Sophie estava irritada pela rapidez com que tinha chegado a essa conclusão. Se não tomasse cuidado, em breve ele estaria questionando o significado de ter dado a preciosa virgindade para ele. Ia adivinhar que ela era muito mais louca por ele do que as aparências poderiam sugerir. E se isso acontecesse, sabia que iria morrer de vergonha e jamais voltaria a encará-lo.
— De jeito nenhum, enamorada — Antônio afirmou com indiferença, passando uma mão confiante e apreciativa pela sua coxa. — Suspeito que vamos nos divertir bastante aprimorando sua educação.
Usando todo o autocontrole de que dispunha, Sophie afastou-se.
— Você está tão enganado... Eu posso ter bancado a inocente para me divertir, mas não havia a menor chance de eu ser virgem, e não posso acreditar que você acreditou nisso.
— Por que está tentando negar o óbvio? Por que deveria ficar encabulada com o fato de não ter andado por aí? Por que está tentando me persuadir do contrário? — Olhos brilhantes cheios de incompreensão pousaram nela. — Acho que você ser virgem na noite de nosso casamento é motivo de orgulho.
Fechou os punhos. O segredo deixara de ser um segredo. Sua desajeitada tentativa de jogar areia nos olhos dele tinha fracassado. A consciência de que ele tinha sido seu primeiro amante fez com que ela se sentisse terrivelmente exposta e vulnerável. Tomada pela crescente suspeita de ter agido feito tola, pulou da cama.
Agarrando a toalha do chão, enrolou-se como se fosse sua única proteção numa tempestade ameaçadora.
— Olha, vamos parar com isso!
— Volte para a cama — murmurou Antônio suave, como se estivesse lidando com uma criatura selvagem.
— Não. Já fizemos o que tinha que ser feito — Sophie retrucou com os olhos verdes brilhantes como pedras preciosas, desafiantes. —- Você foi ótimo e me fez um favor, mas vamos parar por aqui!
— Um favor? — Antônio ficou imobilizado, e qualquer vontade de apaziguamento foi abandonada.
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